- Agora vou margear o rio
Doce, da nascente até o mar.
Foi o que pensei, em algum
momento, enquanto fazia o Giro pelo Arco
Norte do Espírito Santo.
Era 2014.
Concluindo aquele Giro, eu praticamente acabava de
percorrer de bicicleta todo o território capixaba.
Não que eu já tivesse
pedalado por todo o nosso chão. Palmo a palmo.
Não.
Mas já podia dizer, sem
medo, que tinha ao menos botado o pé
(ou o pneu da magrela) sobre os
pontos cardeais (e sobre alguns dos colaterais, também) que delimitam o nosso exíguo desenho cartográfico.
Olha só: já tinha pedalado
por todo o litoral do estado desde o extremo Sul (praia das Neves) até o
extremo Norte (praia do Riacho Doce); tinha ido com a magrela até o ponto mais alto a que se pode chegar de bicicleta no
Espírito Santo: o portão capixaba do Parque Nacional do Caparaó; passara por
todos os municípios que margeiam as fronteiras Sul e Sudeste, pelas corcovas da
região montanhosa central, e por boa parte dos municípios do Norte e Noroeste
do estado.
Quer dizer, o rastro da magrela (das magrelas, em verdade) já estava gravado em praticamente todas as
estradas que constam do mapa rodoviário do Espírito Santo.
Sem falar das tantas
estradinhas – trilhas, algumas – por que passei e que não aparecem nos nossos
registros cartográficos oficiais.
- Agora vou tangenciar o
rio Doce, de cabo a rabo.
Era isso, então, o que eu afirmava
decidido – pra mim mesmo – nos meados de 2014, enquanto pedalava solitário
pelas vias do Arco Norte Capixaba.
Mas essa ideia – é bom
explicar – não me chegava assim, do nada, ali, no meio da estrada, feito um estalo, não.
Na verdade, ela era fruto
do desenvolvimento (e da adaptação) de um velho projeto.
Há um tempo – durante
alguns anos – eu guardei o desejo de sair pedalando desabaladamente pelo
Brasil.
Viajar pelo país inteiro a
bordo de uma magrela é o que eu –
cívico e, talvez, afoito – pensava, então, em fazer.
Depois arrefeci: vou
primeiro conhecer o Espírito Santo.
E aprender um pouco de estrada, antes de – decididamente – saltar fora.
Foi o que ponderei.
E fiz.
E, ali mesmo, já estava viajando por futuros pedais nacionais.
Depois de acompanhar boa
parte dos rios curtos do nosso estreito estado, já me concedia o direito de
sonhar em perscrutar Pindorama, na íntegra, seguindo o ritmo e a melodia de
alguns de seus grandes rios.
O Doce estava à mão.
- É por ele que eu vou
pedalar. Da nascente até o mar.
Sim, cruzar parte de um
dos maiores e mais importantes estados brasileiros – Minas Gerais – e retornar,
em seguida, para as terras capixabas, quer dizer, pra casa.
Rapidinho.
É o que eu ia fazer.
Depois, aproveitando a
experiência – e o tônus muscular adquirido – sairia, aí sim, em busca de outras
rotas ribeirinhas mais distantes.
Até - ao fim - ter
palmilhado, na íntegra, de rio em rio, todo o chão brasileiro.
Será que dá?
Não sei.
Vamos tentar?!
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